1. O treino de força aumenta a flexibilidade?

Alguns estudos científicos referem que os níveis de flexibilidade podem ser desenvolvidos usando métodos de treino de força, quando os exercícios são praticados na máxima amplitude de movimento (Freitas, 2010; Barbosa et al., 2002).
Há, no entanto, outros estudos que demonstram que isto não é aplicável em todos os contextos.

Estudos realizados com jovens atletas de futebol e adultos sedentários não observaram ganhos de flexibilidade após programas de treino de força (Freitas, 2010; Nobrega, Paula & Caravalho, 2005.)

Programas de treino de força conjuntos com práticas de alongamento observam aumentos na flexibilidade, o que significa que o treino de força por si só não desenvolve a flexibilidade em adultos. Por outro lado, existe evidência de que o treino da força aplicado à população idosa induz ganhos de flexibilidade, à semelhança de programas combinados de treino de força e flexibilidade (Freitas, 2010; Barbosa et al., 2002.)

O treino de força convencional parece promover ganhos consideráveis de flexibilidade apenas na população idosa e não em populações de outras faixas etárias.

O efeito positivo do treino da força no desenvolvimento da flexibilidade também parece depender do método de treino de força que se usa e, em particular, das características da carga de treino. Os estudos referidos anteriormente usaram cargas entre os 60-80% da RM. Sabe-se que não se conseguem obter amplitudes articulares próximas do máximo quando se usam intensidades elevadas. Já quando a intensidade da carga é mais baixa, consegue-se uma maior amplitude de movimento, havendo já registo de resultados positivos na flexibilidade (Nelson & Bandy, 2004). Este facto indica que a intensidade da resistência deve ser sempre adequada para maximizar a amplitude de movimento, quando o objectivo é aumentar a flexibilidade por via do treino de força.

Outro aspecto metodológico do treino da força que importa realçar no desenvolvimento da flexibilidade é o regime de contração muscular e o tipo de exercício escolhido. Estudos têm demonstrado que regimes de treino de força com ênfase na componente excêntrica induzem quer aumentos na amplitude articular, quer aumentos no comprimentos dos fascículos musculares (O’Sullivan, McAuliffe, & Deburca, 2012). O exercício escolhido deve atender à maior estimulação  da produção de força no maior grau de alongamento possível. Esta condição favorece o aumento da flexibilidade, como tende a deslocar a curva força-comprimento muscular para a direita, fazendo com que a produção de força seja superior em maiores graus de alongamento (i.e amplitudes articulares superiores).

Em conclusão, o treino de força convencional não tende a desenvolver a flexibilidade, exceptuando a população idosa. Quando o treino de força é condicionado ao nível da intensidade da carga, permitindo uma maior amplitude de movimento, do regime exclusivo de contração muscular excêntrica, e do tipo de exercício que exponha os tecidos musculares a um grau de alongamento elevando, este poderá ter um efeito positivo no aumento da flexibilidade.

Bibliografia:

Treino da Força, Volume 2, Avaliação, Planeamento e Aplicações. Correia, Mil Homens e Mendonça, FMH, ULisboa

Freitas, S. (2010). Flexibilidade e Alongamento: Um Modelo Taxonómico. Lisboa: Gnosies

Nelson, R.T.,& Bandy. W. D. (2004). Eccentric training and static stretching improve hamstring flexibility of high school males. Journal of Athletic Training, 39 (3), 254-258.

Nóbrega, A., Paula, K., & Carvalho, A. (2005). Interaction between resistance training and flexibility training in healthy young adultos. The Journal of Strength & Conditioning Research, 19(4), 842-846.

Barbosa, A. R., Santarém, J.M., Filho, W. J., & Marucci, F. (2002) Effects of resistance training on the sit-and-reach test in elderly women. The Journal of Strength & Conditioning Research, 16(1), 14-18.

O’Sullivan, K. McAuliffe, S., & Deburca, N. (2012). The effects of eccentric training on lowe limb flexibiity: a systematic review. British Journal of Sports Medicine, 46(12), 838-845.

 

 

Este é o primeiro dos 7 artigos que resumiremos sobre o treino de força e flexibilidade. Nenhum dos artigos é da nossa autoria. Todos os autores estão citados na bibliografia acima mencionado. O objectivo deste espaço é informar os nossos atletas e curiosos sobre os mais diversos temas.